Por que eu prefiro fazer o que não me faz bem?

O que vou escrever hoje, vem de um pensamento de ontem, pois ontem eu não escrevi. Mas por que eu não escrevi? Digo, eu tive tempo, eu estava no computador e eu até abri esta página para escrever… Mas por que eu não escrevi?
Escrever é bom, você traduz os seus pensamentos, ideias e visões para algo que pode ser compartilhado no mundo real. Se é bom, por que não fiz?
Por que parece tão difícil de controlar as nossas próprias decisões?
Seja sofrer por nos arrepender ou sofrer por fazer, sempre iremos sofrer. Então por que escolhemos sofrer por não ter feito nada? Por que mesmo sabendo que iremos sofrer por não ter feito e sabendo que vamos nos arrepender, por que escolhemos a pior opção?
Acrasia é um conceito filosófico que significa basicamente agir contra o próprio melhor julgamento, ou seja, a gente sabe o que é o certo, a gente sabe o que é o melhor a se fazer, mas fazemos o contrário por fraqueza de vontade. Esse termo acrasia vem do grego e significa “ausência de domínio (de si)”.
Sócrates, no entanto, negava que a acrasia existia, segundo ele “ninguém erra ou faz o mal voluntariamente”.
Para sócrates, sempre que alguém pratica o mal ou o contrário do que parece a melhor escolha, é porque não entendeu de fato que aquilo era melhor, ele acreditava que toda ação humana visa o bem, então, sempre que alguém escolhe algo “ruim”, é por ignorância, não por fraqueza de vontade.
Exemplo, se alguém sabe que ficar no instagram o dia todo faz mal e mesmo assim continua, sócrates diria que essa pessoa não sabe de verdade. Porque, se soubesse profundamente, não ficaria no instagram o dia todo. Logo, o conhecimento profundo e verdadeiro nos conduz a ação correta.
Então, será que sabemos o que nos faz bem? Será que eu sei de fato que escrever no meu blog todos os dias é algo que me faz bem? Ou é apenas uma ideia que criei? Eu sei o que me faz bem? Ou tenho vieses os quais me foram implantados.
Não se pode fazer tudo.
Uma reflexão que fiz, há não muito tempo atrás, é que nenhum indivíduo vai, em vida, fazer tudo. E pra mim, isso é doloroso, é uma batalha que você perde a partir do momento em que entra. Eu, particularmente, gostaria de fazer diversas coisas, criar jogos, programar sites, escrever livros, pintar, correr maratonas… Mas não há tempo suficiente para isso tudo.
Talvez, o medo de ter de escolher algo para fazer por muito tempo é o que me impede de fazer qualquer coisa. Chega a ser paradoxal, a vontade de fazer me impede de fazer. Nenhuma habilidade se desenvolve em uma semana, mas, pra mim, passar mais de uma semana fazendo algo me gera uma sensação de estar perdendo a oportunidade de fazer outra coisa, curioso, não?
Uma forma de lidar com isso, é fazer as coisas com uma habilidade que você gostaria de desenvolver. Por exemplo, se você quer aprender a programar em python, resolva todas as suas tarefas usando python, desse jeito, você se aprimora naquilo e ao mesmo tempo não perde outras oportunidades de descobrir coisas novas.
A vida é boa demais pra caber em 80 anos
Olha, eu amo viver, eu amo estar acordado, pesquisar coisas, falar sobre coisas e digerir tudo que o mundo tem a me oferecer. Existe tanto conhecimento, tantas tecnologias, tantas culturas e culinárias… Às vezes, sinto que é quase como se eu estivesse sendo punido o tempo todo. Porque veja, dos meus zero aos quinze anos, eu era um sujeito cru, depois disso, até os meus dezoito anos, eu estava começando a achar que eu entendia algo sobre a vida, e, então, de lá pra cá, estou constantemente aprendendo a desaprender tudo aquilo que eu achara que soubera.
Após isso, espero que, aos meus trinta anos, talvez eu terei uma certa noção do que é a vida e, dos trinta até uns oitenta, eu estarei de fato vivendo. Mas aos oitenta, eu estarei carente da energia que tenho hoje aos meus vinte e dois anos, percebe como é contra-intuitivo esse negócio de viver?
Eu estou lendo um livro chamado O Mundo de Sofia, é bacana, fala sobre uma garotinha que, certo dia, recebeu uma carta escrito “quem é você” e desse momento em diante ela passa a se questionar sobre quem ela é. Sofia não é o nome dela, caso tivesse outro nome, ela seria a mesma pessoa? Sofia é o que ela faz? Quem é você, leitor?
Você não é o seu trabalho, a gente tende a sempre responder isso com “ah, eu sou fulano, trabalho em tal lugar, moro não sei aonde…” mas isso não é você, são apenas coisas que você faz, é o lugar onde mora, tudo isso já estava lá antes de você chegar e vai estar após você partir.
Algo que me incomoda é que antes de eu chegar aqui, eu não existia, o universo e todas as coisas passaram um tempo sem mim, até que a minha ausência teve um fim, porém, após eu partir, minha ausência será eterna, eu não vou voltar. Eu nunca mais irei sentir o sol tocar minha pele numa tarde morna de um sábado ordinário.
Opa, espere aí, sábado ordinário? Não, na verdade, todos os sábados são extra-ordinários, se partirmos deste pensamento, existirão mais sábados sem você do que com você, na verdade, nenhum dia, nenhum segundo sequer é ordinário, pensando assim, pois todos eles você estará lá. O universo vai durar bilhões e bilhões de anos, mas por alguns desses anos, uns oitenta ou até noventa e poucos, você vai estar lá, e todos estes dias serão extra-ordinários.
Obrigado por ler até aqui, te vejo amanhã, quem sabe.
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